segunda, 10.08.2020

Inclusão pela luz

Eu Defendo


Morador da comunidade Volta do Bucho, no oeste amazonense, carrega placa de energia solar doada pela WWF em parceria com o governo brasileiro. Hoje, quase um milhão de brasileiros dessa região não têm eletricidade. (Foto Carl de Souza/Getty Images)
Morador da comunidade Volta do Bucho, no oeste amazonense, carrega placa de energia solar doada pela WWF em parceria com o governo brasileiro. Hoje, quase um milhão de brasileiros dessa região não têm eletricidade. (Foto Carl de Souza/Getty Images)

REPORTAGEM Gabriela Portilho
EDIÇÃO Marina Estarque

Você está em casa e a luz de repente acaba. Não demora muito para que você e seus vizinhos liguem para a rede fornecedora de energia e cobrem providências. Sem energia não tem wi-fi, televisão, computador, geladeira, banho quente e nem iluminação, claro. Agora imagine viver permanentemente assim. Essa é a realidade de 10% da população mundial.

São 840 milhões de pessoas que ainda não possuem acesso à energia elétrica. E mais 1 bilhão se conecta a redes de eletricidade instáveis ou pouco confiáveis, com cortes e apagões frequentes.

A falta de energia impacta significativamente a qualidade de vida, já que provoca problemas na distribuição ou implementação de outros serviços. A água potável, por exemplo, não pode ser bombeada até as residências, as escolas ficam impossibilitadas de usar computadores e outras tecnologias, e a refrigeração de vacinas, medicamentos e alimentos pode ser prejudicada. Por isso, é nosso dever defender o acesso à energia - de preferência, limpa - para todas as comunidades.

Apesar de a eletricidade ser um meio indispensável para assegurar a dignidade, milhões de brasileiros ainda vivem sem luz. Muitos deles, quase um milhão, estão localizados na região amazônica, segundo estudo do Instituto de Energia e Meio Ambiente.

Quando falamos sobre o assunto, temos que levar em consideração ainda a fonte energética usada para cozinhar. Atualmente, quase 40% da população mundial não usa gás de cozinha ou outras fontes energéticas limpas para preparar suas refeições - são pessoas que precisam recorrer a métodos mais poluentes, como o carvão vegetal ou lenha, especialmente nos países mais pobres. Por conta disso, 3,8 milhões morrem por ano, em decorrência da poluição do ar gerada na hora de cozinhar os alimentos. Para se ter uma ideia, essa fumaça provocada pela queima de carvão e gravetos dentro de casa mata anualmente mais gente no mundo do que HIV, tuberculose e malária juntos.

O acesso universal à energia é tão importante para um planeta socialmente inclusivo e ambientalmente sustentável que faz parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. O compromisso é que até 2030 todos os seres humanos tenham acesso a serviços de energia confiáveis, modernos e com preços justos.

Além disso, a Agenda 2030 estipula que os países aumentem substancialmente a participação de energias renováveis na matriz energética global. Energias renováveis são aquelas provenientes de recursos reabastecidos naturalmente, como o sol, o vento, as chuvas e as marés.

Nesse quesito, o Brasil se destaca, já que temos uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, com 83% de fontes renováveis - 63,8% vem das hidrelétricas, 9,3% de energia eólica, 8,9% de biomassa e biogás e 1,4% de energia solar.

Infelizmente, essa não é a realidade na maioria dos países. Apenas 17,3% da energia consumida no mundo é renovável, o que tem graves consequências para o aquecimento global. Isso porque o consumo de energia é responsável por 73% das emissões de gases de efeito estufa causadas por seres humanos.

Do jeito que vamos, a ONU alertou: o mundo não está no caminho para cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030 ou mesmo até 2050.

É importante lembrar que ainda não existe uma forma de energia com zero impacto ambiental. Mesmo as consideradas limpas têm efeitos negativos importantes, como alagamentos, mudanças na paisagem original, deslocamento populacional, destruição de ecossistemas, entre outros. Ou seja, é preciso usar racionalmente os nossos recursos e tentar minimizar os danos.

Assim, evitar o desperdício de energia no cotidiano não é apenas uma questão de economizar dinheiro, mas de responsabilidade com o planeta e as futuras gerações. Não é porque você pode pagar, que você deve gastar. Um novo comportamento de consumo é urgente: não deixe para mudar no apagar das luzes.

 

Como você pode ajudar?

No consumo de energia, pequenas mudanças já ajudam a fazer a diferença. Um estudo publicado pelo Instituto Akatu em parceria com o Believe Earth mostrou que se cada brasileiro reduzisse em apenas um minuto o tempo diário de banho, deixaríamos de jogar na atmosfera cerca de 381 mil toneladas de CO2 equivalente por ano - o que corresponde às emissões de 58,8 mil carros dando uma volta na Terra.

Por isso, faça o que estiver ao seu alcance: reduza o tempo no chuveiro, troque as lâmpadas convencionais por LED, desligue equipamentos enquanto não estiverem em uso, opte pelo transporte público e, se não for possível abrir mão do carro, abasteça com etanol ou gás natural. Se puder, instale placas de energia solar em casa.

Como cidadão, pressione os governos a investirem cada vez mais em matrizes energéticas limpas e apoie instituições que lutem por essa causa. No site da ONU é possível calcular sua pegada de carbono e escolher projetos para compensar as suas emissões. Também separamos uma lista de ONGs dessa área para você conhecer e com elas colaborar:

Litro de Luz
Leva luz a moradores de comunidades brasileiras por meio de uma tecnologia simples, econômica e sustentável, composta por garrafas plásticas, painéis solares e lâmpadas LED. Saiba como doar ou ser um voluntário.

Instituto Akatu
Trabalha pela conscientização e mobilização da sociedade para promover mudanças nos hábitos de consumo. O instituto foca em duas frentes de atuação: educação e comunicação. Veja como colaborar ou seja um voluntário.

Xingu Solar
Uma parceria entre o Instituto Socioambiental (ISA) e o Instituto Energia e Meio Ambiente (IEMA) leva, desde 2015, sistemas de energia limpa para 65 aldeias do Território Indígena do Xingu. A iniciativa se tornou referência em soluções de energia renovável em comunidades isoladas. Apoie o ISA e colabore com esse e outros projetos.

Revolusolar
Promove o desenvolvimento sustentável de comunidades de baixa renda através da energia solar. Investe em instalações solares, formação profissional para esse mercado, oficinas infantis sobre sustentabilidade e pesquisas para gerar conhecimento sobre o tema, representando os interesses da favela no setor energético. Saiba como apoiar.

IDEEAS
Atua na criação e desenvolvimento de modelos sustentáveis no campo das energias renováveis e empreendedorismo social, com foco na inclusão energética de populações isoladas. Entre em contato para saber como colaborar.




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