REPORTAGEM Gabriela Portilho
Nas últimas semanas, dois crimes chocaram os países mais populosos das Américas. Nos Estados Unidos, na cidade de Minneapolis, em 25 de maio, George Floyd, um homem negro de 46 anos, morreu após um policial branco prensar seu pescoço com o joelho contra o chão por 8 minutos e 46 segundos. Na segunda-feira anterior, em São Gonçalo (RJ), João Pedro Mattos, um adolescente negro de 14 anos, foi morto dentro da própria casa por uma bala de fuzil disparada durante uma operação policial - um entre mais de 70 disparos que atingiram a residência.
As duas tragédias escancaram um problema que vem de longe. Entre os séculos 16 e 18, no decorrer de mais de 300 anos, ao menos 10 milhões de pessoas foram retiradas à força da África e vendidas como escravas para as Américas. O Brasil foi a região que mais recebeu cativos: 4,8 milhões de negros foram trazidos para cá - ou seja, quase metade do total.
Hoje, os descendentes de pessoas escravizadas compõem mais da metade da população brasileira: 56% dos habitantes do país se declaram negros. É a maior população negra fora da África. Mas, como consequência dos séculos de exploração e do enraizamento do racismo em nossa sociedade, os negros brasileiros seguem sofrendo violências de vários tipos.
A cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado no Brasil . A cada 100 pessoas assassinadas no país, 71 são negras. O analfabetismo entre negros é mais do que o dobro da taxa entre brancos. Negros têm menos acesso à saúde . Considerando a média dos salários, eles ganham R$ 1,2 mil a menos do que os brancos. E as mulheres negras são as maiores vítimas de feminicídio, violência doméstica, violência obstétrica e mortalidade materna.
"Se mais da metade da população do país é atingida por essa desumanização, o potencial da sociedade como um todo fica limitado", afirmou o antropólogo Kabengele Munanga, professor da USP, em entrevista à revista Sorria . "O racismo determina os níveis de acesso ao ensino, ao trabalho, à cultura, à saúde."
A partir dos anos 1980, algumas medidas foram tomadas para tentar diminuir o abismo racial no país. A garantia de direitos iguais expressa na Constituição de 1988 , o Estatuto da Igualdade Racial e a política afirmativa de cotas , que ampliou o acesso de estudantes negros ao ensino superior, são alguns dos principais exemplos. Mas muito ainda precisa ser feito.
Como você pode ajudar? "Numa sociedade racista, não basta não ser racista, é preciso ser antirracista", disse a filósofa e ativista negra estadunidense Angela Davis.
Para se engajar nessa causa, o primeiro passo é aprender sobre o racismo. O Canal Preto , no YouTube, e o Portal Geledés são bons pontos de partida. Você também pode ler autores negros, seguir ativistas nas redes sociais e, claro, ouvir o que as pessoas negras ao seu redor têm a dizer. Se você não é negro, é fundamental que reconheça seus privilégios , percebendo todas as vantagens que teve e têm na vida por causa da cor da sua pele. Outra forma de agir é cobrar no trabalho, escola, universidade ou qualquer outra instituição a presença ativa de pessoas negras - se for em postos de poder, melhor ainda.
Você também pode colaborar com projetos que lutam por essa causa. Preparamos uma seleção:
Baobá Primeiro e único fundo dedicado, exclusivamente, à promoção da equidade racial para a população negra no Brasil. Mobiliza pessoas e recursos, no Brasil e no exterior, para o apoio a projetos e ações pró-equidade racial. Você pode doar para o fundo clicando aqui.
Educafro A ONG reúne voluntários que lutam pela inclusão de negros no ensino superior, impulsionando o empoderamento e a mobilidade social da população pobre e afro-brasileira. Veja como participar.
Criola Desenvolve ações voltadas à melhoria das condições de vida da população negra, especialmente mulheres, lutando contra o racismo, o sexismo, a lesbofobia e a transfobia. Saiba mais e veja como ajudar. Um trabalho semelhante é realizado pelo Odara - Instituto da Mulher Negra .
Preta Comprando de Preta Comunidade que funciona como uma rede de troca, compra e venda entre empreendedoras negras de todo o Brasil. Saiba mais e participe.
É completamente inaceitável que pessoas sejam assassinadas, violentadas e tenham menor acesso a direitos básicos por causa da cor da própria pele. Isso ainda acontece todos os dias no Brasil e no mundo, e todos temos o dever de ser parte de uma sociedade que mude esse cenário. Confira no nosso Instagram que outras contas você pode seguir para se informar e se engajar.
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