domingo, 28.06.2020

Mais amor, menos preconceito

Eu Defendo


No Brasil, uma pessoa LGBTQIAP+ é assassinada a cada 26 horas. Saiba mais sobre a defesa dos direitos desse grupo, uma luta por liberdade que precisa do apoio de todos nós (Foto: Arctic Images)
No Brasil, uma pessoa LGBTQIAP+ é assassinada a cada 26 horas. Saiba mais sobre a defesa dos direitos desse grupo, uma luta por liberdade que precisa do apoio de todos nós (Foto: Arctic Images)

REPORTAGEM Gabriela Portilho
EDIÇÃO Marina Estarque

Hoje é dia de conhecer mais uma causa que você pode ajudar a defender! E para encerrar junho com chave de ouro, a bandeira da vez não poderia ser outra: este é o mês do orgulho LGBTQIAP+ (se não sabe o que a sigla significa, confira o glossário no fim desse texto!). A celebração é uma homenagem a um episódio histórico na luta pelos direitos gays, conhecida como Stonewall Riot (a Rebelião de Stonewall).

Ser homossexual era considerado crime em quase todos os estados dos EUA até 1962, e, durante os anos 50 e 60, poucos estabelecimentos recebiam pessoas declaradamente homossexuais no país. Aqueles que o faziam, como o bar Stonewall Inn, em Nova York, eram frequentemente vítimas de batidas policiais.

Mas, na noite de 28 de junho de 1969, embalados por uma série de revoltas sociais que estavam acontecendo no país, os frequentadores do bar receberam a chegada dos policiais com um motim, que se estendeu pelo país, marcando o início da luta pelos direitos LGBTQIAP+ nos EUA e no mundo.

A data passou a celebrar uma união histórica, mas também relembra que há um longo caminho a ser percorrido. Apesar de normalizada em diversos períodos, a história da homossexualidade - e da diversidade sexual como um todo - nos últimos séculos tem sido marcada pela violência.

Durante o regime nazista, gays e lésbicas eram levados aos campos de concentração e teorias médicas consideravam a homossexualidade como uma doença mental que deveria ser tratada com métodos de tortura, como terapias de choque, castração, lobotomia e até estupros "corretivos". Recentemente, no Brasil, um juiz federal autorizou psicólogos a fazerem terapias de reversão sexual, popularmente conhecidas como "cura gay" - a decisão foi suspensa posteriormente pelo Supremo Tribunal Federal.

A homossexualidade só foi retirada da lista de doenças da Organização Mundial da Saúde em 1990, e só em 2018 a transexualidade deixou a fazer parte da lista de doenças mentais da OMS. Ainda hoje, ter relações homossexuais é considerado um crime em 70 países, ou seja, 1 em cada 3 nações do mundo. Em mais de dez países, a punição é a pena de morte. =

Só no Brasil, uma pessoa LGBTQIAP+ é assassinada a cada 26 horas. O país também é o que mais mata travestis e pessoas trans no mundo, com 129 mortes só em 2019 - curiosamente, é também o país que mais busca conteúdos pornográficos com transexuais, segundo pesquisa de um canal de vídeo gratuito.

A criminalização e patologização da comunidade LGBTQIAP+ acaba moldando atitudes e práticas discriminatórias que impactam vários aspectos da nossa sociedade. Nas escolas brasileiras, por exemplo, 73% dos adolescentes gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros afirmam que sofrem bullying e 37% dizem que já apanharam, o que colabora com a evasão no ensino. Entre as mulheres transexuais e travestis, 82% acabam abandonando o ensino médio entre os 14 e os 18 anos.

Além da discriminação nas escolas, membros da comunidade LGBTQIAP+ também correm mais riscos de viver em situação de rua por rejeição das próprias famílias. Nos EUA, por exemplo, 40% dos jovens sem-teto são LGBT.

Países como Argentina, Uruguai, Brasil e Colômbia têm tomado medidas importantes em relação à discriminação e violência contra pessoas LGBTQIAP+. No Brasil, por exemplo, desde junho do ano passado, a homofobia passou a ser criminalizada. Desde então, quem ofender ou discriminar gays, lésbicas, bissexuais ou transgêneros está sujeito a punição de um a três anos de prisão inafiançáveis. Mas ainda há muito a ser feito.

Como disse a cantora Daniela Mercury, Campeã da Igualdade da ONU no Brasil, a defesa dos direitos LGBTQIAP+ é uma luta por liberdade e uma causa de todos nós. Viva a diversidade!

 

Como você pode ajudar?

O primeiro passo é se informar e exigir a investigação e punição desse tipo de crime. Também é importante votar em candidatos LGBTQIA+ e cobrar de nossos representantes medidas que reduzam a violência com base na orientação sexual e identidade de gênero. Uma dica é acompanhar o coletivo #VoteLGBT, que ajuda a dar visibilidade para candidatos que apoiam a causa.

É fundamental não tolerar qualquer forma de agressão homofóbica ou transfóbica, incluindo verbal. E denunciar, mesmo quando a violência não for dirigida contra você. No Disque 100, que funciona 24h por dia, é possível comunicar qualquer ameaça aos direitos humanos. Você também pode contribuir colaborando com ONGs e coletivos que atuam pela causa. Listamos alguns abaixo:

ABGLT
A Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT) é uma organização brasileira que tem como objetivo, desde 1995, promover ações que garantam a cidadania e os direitos humanos de LGBTs. Saiba como se filiar ou fazer parte dessa rede.

Grupo Gay da Bahia
É uma organização não governamental voltada para a defesa dos direitos dos homossexuais no Brasil. Fundada em 1980, é a mais antiga associação brasileira de defesa dos gays ainda em atividade. Apoie a continuidade desse trabalho!

Casa Nem
É um espaço de acolhimento para pessoas LGBTIs em situação de vulnerabilidade social, com foco em transexuais e transgêneres. Conheça mais e saiba como apoiar.

Mães pela Diversidade
Coletivo independente de mães, que luta pelos direitos civis e também funciona como espaço de acolhimento para famílias de LGBTs. Doe e apoie!

Eternamente Sou
ONG voltada para a implantação de serviços e projetos de atendimento psicossocial a pessoas idosas LGBTs. Nesse link você pode colaborar para que o projeto continue em andamento.

Casa 1
Organização localizada na cidade de São Paulo e financiada coletivamente pela sociedade civil. Funciona como acolhida para pessoas LGBT expulsas de casa, fomenta atividades culturais e educativas e também conta com atendimentos psicoterápicos. Contribua com esse projeto ou voluntarie-se para ajudar.

 

GLOSSÁRIO
A sigla LGBTQIAP+ abrange pessoas que são lésbicas, gays, bi, trans, queer/questionando, intersexo, assexuais/arromânticas/agênero, pan/poli e mais. A sigla é uma tentativa de abarcar a complexidade do movimento, que é bastante dinâmico, e ainda existe muita discordância sobre quais comunidades devem ser incluídas. Alguns ativistas britânicos propuseram recentemente que a sigla completa seria LGBTQQICAPF2K+

Listamos abaixo as principais definições:

Orientação sexual: é a atração afetiva e/ou sexual que uma pessoa manifesta em relação a outra, para quem se direciona, involuntariamente, o seu desejo (vale lembrar que o termo certo é "orientação sexual", e não "opção sexual", por não se tratar de uma escolha). Confira a seguir algumas das principais orientações sexuais:

> Heterossexual: pessoa que se sente atraída afetiva e/ou sexualmente por pessoas do sexo/gênero oposto.
> Homossexual (gays e lésbicas): pessoa que se sente atraída afetiva e/ou sexualmente por pessoas do mesmo sexo/gênero. Não se utiliza a expressão "homossexualismo", pois o sufixo "ismo" denota doença.
> Bissexual: pessoa que se sente atraída afetiva e/ou sexualmente por pessoas de ambos os sexos/gêneros.
> Assexual: pessoas que nunca, ou que raramente, sentem atração sexual.
> Arromântica: pessoa que nunca, ou que raramente, se apaixona.
> Pansexual: pessoa que sente atração por todos os gêneros, ou independentemente do gênero.
> Polissexual: pessoa que sente atração por muitos gêneros.

 

Identidade de gênero: é a percepção íntima que uma pessoa tem de si como sendo do gênero masculino, feminino ou de alguma combinação dos dois, independente do sexo biológico. A identidade traduz o entendimento que a pessoa tem sobre ela mesma, como ela se descreve e deseja ser reconhecida. Veja abaixo alguns dos principais conceitos relacionados a gênero:

> Cisgênero: pessoa cuja identidade de gênero coincide com o sexo biológico. Aquelas que são biologicamente mulheres e possuem identidade de gênero feminina ou biologicamente homens e possuem identidade de gênero masculina. Utiliza-se esse termo como oposto de "transgênero".
> Transgênero: terminologia normalmente utilizada para descrever pessoas que transitam entre os gêneros, englobando travestis, transexuais, crossdressers, drag queens/kings e outros/as. Contudo, há quem utilize esse termo para se referir apenas àquelas pessoas que não são nem travestis e nem transexuais, mas que vivenciam os papéis de gênero de maneira não convencional.
> Transexual: pessoa que possui identidade de gênero diferente do sexo biológico. Homens e mulheres transexuais podem manifestar a necessidade de realizar modificações corporais por meio de terapias hormonais e intervenções médico-cirúrgicas, com o intuito de adequar seus atributos físicos (inclusive genitais - cirurgia de redesignação sexual) à sua identidade de gênero. Entretanto, nem todas as pessoas transexuais manifestam esse tipo de necessidade.
> Mulher transexual (mulher trans ou transmulher): é aquela que nasceu com sexo biológico masculino, mas possui uma identidade de gênero feminina e se reconhece como mulher.
> Homem transexual (homem trans ou transhomem): é aquele que nasceu com sexo biológico feminino, mas possui uma identidade de gênero masculina e se reconhece como homem.
> Travesti: pessoa que nasce com sexo masculino e tem identidade de gênero feminina, assumindo papéis de gênero diferentes daqueles impostos pela sociedade. Muitas travestis modificam seus corpos por meio de terapias hormonais, aplicações de silicone e/ou cirurgias plásticas, mas, em geral, não desejam realizar a cirurgia de redesignação sexual (conhecida como "mudança de sexo"). Importante: as travestis possuem identidade de gênero feminina e, por isso, utiliza-se o artigo definido "a" para se referir a elas: a travesti.
> Crossdresser: pessoa que se veste com roupas tradicionalmente associadas ao gênero oposto para vivenciar momentaneamente um papel de gênero diferente daquele atribuído ao seu sexo biológico. Em geral, não realiza modificações corporais e não chega a estruturar uma identidade transexual ou travesti.
> Drag Queen ou transformista: homem que se veste com roupas femininas extravagantes para a apresentação em shows e eventos, de forma artística, caricata, performática e/ou profissional.
> Drag King: mulher que se veste com roupas masculinas com objetivos artísticos, performáticos e/ou profissionais.
> Queer: pessoas definem seu gênero como queer por não quererem/saberem definir a sua identidade além de "nem homem, nem mulher", ou por desafiarem as normas de ser homem ou mulher. Mas queer também pode ser um termo que abrange qualquer pessoa fora das normas de gênero, sexo e relacionamentos.
> Questionando: significa que a pessoa não sabe qual é sua identidade de gênero.
> Intersexo: são pessoas que, congenitamente, não se encaixam no binário conhecido como sexo feminino e sexo masculino, em questões hormonais, genitais, ligadas aos cromossomos, e/ou outras características biológicas.
> Agênero: não possuem gênero ou se sentem mais ou menos contempladas por esta definição.

Um mundo em que as pessoas se sentem seguras para falar quem são, como são, não é apenas mais justo e igualitário. Ele é também um mundo mais interessante, que celebra todas as existências. Em todas as suas cores. :) 

Fontes do glossário: Cartilha DIVERSIDADE SEXUAL E A CIDADANIA LGBT - Estado de São Paulo Orientando.org




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