segunda, 13.07.2020

Se tem comida, não pode haver fome

Eu Defendo


Fazendeira rega mudas de fazenda orgânica de Iperó (SP), onde a demanda por alimentos saudáveis dobrou durante a pandemia do novo coronavírus (Foto: Rebeca Figueiredo Amorim/Getty Images)
Fazendeira rega mudas de fazenda orgânica de Iperó (SP), onde a demanda por alimentos saudáveis dobrou durante a pandemia do novo coronavírus (Foto: Rebeca Figueiredo Amorim/Getty Images)

REPORTAGEM Gabriela Portilho
EDIÇÃO 
Marina Estarque

No mundo todo, mais de 820 milhões de pessoas passam fome. Ou seja, um contingente que equivale a quase quatro vezes a população do Brasil não tem acesso às calorias suficientes para suprir suas necessidades energéticas diárias.

Considerando o número de pessoas com insegurança alimentar moderada, o total chega a 2 bilhões. São seres humanos que passam fome ou não têm acesso regular e suficiente a alimentos nutritivos, o que os coloca em uma situação de alto risco de desnutrição e de desenvolver problemas de saúde.

A fome, no entanto, não é causada pela falta de alimentos. Atualmente produzimos o suficiente para suprir as necessidades dos nossos 7 bilhões de habitantes. O problema é que essa comida não chega a quem precisa, seja por falta de abastecimento dos mercados locais ou pela impossibilidade financeira de comprar ou produzir alimentos. Assim, fica claro que fome e pobreza caminham lado a lado. Segundo a ONU, em 2015, 836 milhões viviam em pobreza extrema no mundo, número próximo do de pessoas que passam fome.

(O tema da erradicação da miséria, aliás, foi tratado em outro texto da seção Eu Defendo aqui no nosso blog. Você pode ler aqui.)

A falta de alimentos é ainda mais grave nas zonas rurais, onde 80% da comida do mundo é produzida. Sem terra própria, e muitas vezes endividados pela compra de sementes e insumos, os pequenos produtores acabam não tendo acesso adequado à comida. Ou seja, justamente as áreas que mais produzem alimentos no mundo são aquelas onde existe mais fome.

Outro problema que explica esse cenário é o desperdício. Quase um terço da produção mundial de alimentos, o equivalente a 1,3 bilhão de toneladas, vai parar no lixo todos os anos. Vale lembrar que desperdício não é só aquilo que sobra no nosso prato, mas também as perdas da agricultura durante a colheita, armazenagem ou distribuição. Para se ter uma ideia, a metade do valor desperdiçado com alimentos pelas nações ricas já seria o suficiente para acabar com a fome do planeta.

Nesse tema, o Brasil teve avanços importantes. Entre 2002 e 2013, a população de brasileiros em situação de subalimentação caiu 82%, e o país finalmente saiu do Mapa da Fome elaborado pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura). Mas, nos últimos anos, o problema voltou a nos assombrar, associado ao baixo crescimento econômico e o desemprego. Segundo o IBGE, em 2018, o país tinha 13,5 milhões pessoas em extrema pobreza, um recorde em sete anos. Recentemente, o ex-diretor geral da FAO, José Graziano da Silva, alertou que o país pode voltar ao Mapa da Fome mundial já em 2020.

Um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, lançados pela ONU em 2015, estabelece que o desperdício alimentar deve ser reduzido em 50%, e a fome e todas as formas de subnutrição erradicadas até 2030. São metas cada vez mais desafiadoras, diante da pandemia e a crise econômica, que podem aumentar para 1 bilhão a quantidade de pessoas que passam fome no mundo - o que representaria um retrocesso de 20 anos na questão.

Enquanto falamos em décadas, a falta de comida é um problema diário para cerca de 5 milhões de brasileiros. Como dizia o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, criador da Ação da Cidadania (veja abaixo), "quem tem fome tem pressa". É uma causa urgente, que todos devemos defender. Que tal contribuir hoje para mudar essa realidade?

Como você pode ajudar?

Combater a fome não é uma tarefa simples, já que depende também do crescimento econômico e sustentável dos países, mas nós podemos ajudar apoiando políticas públicas, mudando nossos hábitos de consumo, evitando o desperdício de alimentos e apoiando os pequenos produtores. Você também pode contribuir colaborando com projetos e ONGs que estão à frente desta causa. Veja algumas opções abaixo:

Cidades Sem Fome
A ONG transforma terrenos públicos e particulares da periferia de São Paulo em hortas comunitárias. O projeto visa melhorar a qualidade de vida na região através de projetos sustentáveis de agricultura urbana, baseados em processos de produção orgânica. Aqui você pode contribuir. 

ONG Banco de Alimentos
É uma associação civil que recolhe alimentos que já perderam valor de prateleira no comércio e indústria, mas ainda estão perfeitos para consumo. Em seguida, distribui esses alimentos onde são mais necessários. Doe você também!

Refettorio Gastromotiva
Funciona como um restaurante-escola. Os chefs convidados e jovens talentos da ONG Gastromotiva cozinham com ingredientes excedentes e servem os pratos para 90 pessoas em situação de rua, que jantam diariamente no local. Saiba aqui como doar ou seja um voluntário!

Comida Invisível
O aplicativo conecta quem tem alimentos bons e próprios para doar com quem precisa dele. Assim, atua como uma ponte direta entre restaurantes, supermercados, hotéis, bufês, bares, o terceiro setor e pessoas físicas. O objetivo é facilitar a doação de alimentos impróprios para o comércio, porém próprios para o consumo. Clique aqui para baixar o aplicativo e tornar-se um doador.

Ação da Cidadania
Fundada pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, em 1993, tem uma longa tradição de combate à fome no país, com projetos como Natal Sem Fome, entre outros. Atualmente, a organização está intensificando sua atuação de distribuição de alimentos por todo o país pela crise do coronavírus. Veja aqui como doar.

Você também pode ajudar essa causa comprando o livro Eu Amo Comida, publicado pela MOL em 2016 e disponível na Banca do Bem, nossa loja oficial! Ele gera doações para a ONG Banco de Alimentos e a Gastromotiva, duas instituições mencionadas aqui em cima. :)




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