Por Artur Louback
Como diretor executivo da MOL, passo boa parte do meu tempo conversando com representantes de grandes empresas e do terceiro setor, criando pontes entre essas duas áreas que funcionam de formas tão diferentes. A cada nova parceria que fechamos com um varejista e a cada doação que realizamos para uma ONG, atuamos praticamente como tradutores, possibilitando que a comunicação entre essas duas áreas seja mais fluida.
A experiência da MOL nos últimos anos, em projetos como o Edital Sorria e o Adote Petz , mostrou que poderíamos ir além: mais do que criar produtos socioeditoriais que geram doação para causas, poderíamos ajudar outras empresas a potencializar sua capacidade de gerar impacto em prol dos cidadãos.
Por isso ficamos intrigados quando surgiu uma oportunidade: Ana Herzog, gerente de reputação e sustentabilidade do Magazine Luiza, entrou em contato conosco falando que a empresa estava preocupada com o aumento nos casos de violência contra a mulher durante a pandemia. Ela nos contou que o Magalu precisava de ajuda para fazer uma doação que chegasse aos lugares certos.
O Magalu e a Luiza Trajano são conhecidos por seu comprometimento com a causa da mulher: o aplicativo da loja tem um botão para denunciar agressores, e a empresa oferece um programa interno de apoio para funcionárias que sofreram violência. Mas dessa vez eles precisavam da nossa ajuda porque tinham um desafio especial: como ajudar mulheres de todos os rincões do Brasil? Como poderiam chegar naquelas que não usam o aplicativo, e que talvez as grandes ONGs ainda não estejam ajudando?
VIOLÊNCIA NÃO É SÓ OLHO ROXO
Desde o início da conversa, dissemos que a melhor solução para garantir que o dinheiro chegaria aos lugares certos seria fazer um edital. E já sabíamos: um edital só é tão bom quanto suas cláusulas. Não temos como ajudar sem conhecer direito quem precisa de ajuda.
Por isso fizemos um mapeamento para descobrir quem está na outra ponta do fio. Chamamos a Agência Mandê para essa tarefa, que produziu uma apresentação minuciosa, detalhando quem já estava batalhando pela causa no Brasil todo, e quais eram os problemas mais urgentes e frequentes no combate à violência contra a mulher - e também os menos visíveis.
Conseguimos ver claramente a diferença entre as ONGs que atuam em comunidades específicas e aquelas que têm alcance regional e nacional . E a partir disso, entendemos qual seria uma verba que causaria um impacto relevante e duradouro para essas organizações.
Foi necessário olhar para o assunto de forma mais ampla: violência não é apenas o olho roxo, mas também os danos mentais e à autonomia, muitas vezes com raízes econômicas . Sabemos que muitas mulheres não denunciam seus agressores porque não conseguem romper o vínculo com eles. Então para avançar de verdade a causa, era necessário contemplar três braços: acesso à justiça, apoio à saúde física e mental, e geração de renda.
Também decidimos que, por conta dos problemas sistêmicos do nosso país, daríamos atenção especial a organizações de fora do eixo Rio-São Paulo, e para propostas que trabalhassem a questão da mulher com causas cruzadas, com cuidado especial para pessoas não-brancas e para a comunidade LGBTQIAP+.
O edital foi ao ar no Prosas dia 26 de agosto de 2020. Achamos que receberíamos 200 inscrições. Em 30 dias, quase 600 ONGs registraram interesse no edital, e 459 delas completaram a inscrição.
MAIS DINHEIRO E MAIS ONGS APOIADAS
Se por um lado o número de inscrições mostra a urgência e a falta de apoio a essa causa, por outro também mostra que fizemos o trabalho direito. Ficamos muito satisfeitos em ver que tínhamos inscrições de todos os estados brasileiros, com organizações de todos os segmentos de atuação.
O Prosas nos deu um apoio fundamental nesta etapa, com uma equipe e ferramentas que nos deram a tranquilidade de que todas as organizações candidatas seriam avaliadas com cuidado e atenção. Então fizemos uma primeira classificação e pontuação das ONGs, e levamos a lista para o comitê de especialistas que faria a escolha final. Neste comitê estavam a própria Luiza Trajano - que fez questão de participar -, junto com as promotoras de justiça Silvia Chakian e Gabriela Mansur; Elizabete Leite Scheibmayr e Marisa Cesar (do Grupo Mulheres do Brasil ); Jacira Melo (diretora do Instituto Patrícia Galvão ); e Renata Cruppi (delegada de polícia da Delegacia de Defesa da Mulher de Diadema).
Nossa intenção era selecionar 16 ONGs. Mas ao fazer a filtragem final, o comitê chegou a uma lista de 20 organizações que queríamos muito beneficiar. Então conversamos, propusemos algumas alterações e tivemos apoio do Magalu para ampliar o total da doação: pulamos de R$ 2,5 milhões para R$ 2,65 milhões no total.
No início de março anunciamos as 20 selecionadas ( que você pode ver aqui ), mas o trabalho não acaba aí.
MAIS DO QUE DOAR, PROFISSIONALIZAR
Nós aqui da MOL acreditamos em dar mais que dinheiro: dar recursos e expertise é essencial para que o terceiro setor possa ter um crescimento sustentável. É por isso que as 20 selecionadas participarão de um curso de aceleração da Phomenta , e nós aqui da MOL faremos o acompanhamento para que elas tenham uma gestão eficiente e transparente, e possam ampliar seu impacto cada vez mais.
Desde março de 2021, nossa equipe mantém contato com as pessoas por trás dessas ONGs. Conhecer quem as gere é uma experiência muito impactante: a força que essas pessoas demonstram todos os dias é admirável, e ficamos felizes em ver que a verba do edital será capaz de chegar a iniciativas de todo o Brasil, ajudando mulheres a se libertar da violência em diversas frentes.
Para nós, o mais impressionante é conversar com organizações que lidam com comunidades que não costumam receber apoio de empresas - muito menos uma empresa do porte do Magalu. É uma grande alegria saber que o recurso vai chegar tão longe.
Ter participado desse processo, desde sua concepção até o contato com as escolhidas, me ajudou a ver com mais clareza a importância do trabalho da MOL. Nossa vocação sempre foi construir caminhos que conectam o varejo com o terceiro setor, para ajudar a fortalecer as causas em que acreditamos - e isso vai muito além dos nossos produtos socioeditoriais. As experiências que tivemos nos últimos anos, e todas as conversas que temos com organizadores, empresários, beneficiados e lideranças nos mostram cada vez mais que estamos dando os passos certos para chegar no futuro em que acreditamos.
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